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Nasci em Minas de S. Domingos, uma pequena aldeia do Baixo Alentejo, no dia 19 de Maio de 1955. As minhas raízes são fortemente alentejanas. Cedo se revelou o meu gosto pela escrita. Comecei por escrever histórias, versos, poemas curtos mas longos no sentimento. Aos poucos foram crescendo, ganhando alma, criando à minha volta desejos, desnudando sentimentos onde encontrei muito para chorar. Quando escrever se tornou para mim uma dependência compreendi que era através da escrita que encontrava sossego sempre que sopros grosseiros de desordem invadiam a minha vida. Escrever é para mim um enorme prazer mas é também preocupação e responsabilidade: Preocupação como forma de disciplina, responsabilidade como contrapartida de uma vida livre. Escrevo pondo de lado todos os medos, e desfruto desse acto criativo, inventando, porque a literatura é uma invenção. Com frequência os meus livros nascem de ideias abstractas que vão ganhando forma à medida que as personagens se vão dispondo e arrumando sem conflituosidade. Escrevo com o coração, reescrevo com a cabeça e, por fim, dou-lhe alma.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

VIDAS COM ALMA


Os meus pais nas suas bodas de ouro.
«Diz-se que os diamantes são os melhores amigos das mulheres.
Também se diz que são eternos, atributo raro numa sociedade que valoriza o deitar fora.
Felizmente há casamentos como os diamantes. Eternos. Pese embora o brilho que com o tempo tende a embaciar.
Quando isto acontece, respeitam-se e há sempre um que ama mais que o outro, como se o amor de um chegasse para os dois.
«É um bom marido. Nunca me levantou a mão» dizem com frequência. Curioso como nesta altura (reporto-me a casais com 50 e 60 anos de casamento) o facto de o marido nunca ter levantado a mão, fazia dele um bom marido, como para ser um bom pai, bastava que a comida nunca faltasse na mesa. E era-o realmente.
Homem assim, jamais troca por outra mulher a esposa que tem, nem reclama das queixas dela, nem das rugas, nem das estrias, nem dos quilos a mais. Aprenderam-se a gostar não pelo aspecto actual, mas por tudo aquilo que representam um para o outro ao longo da vida.
E estes são os casamentos eternos. São as vidas vividas com alma.

Hoje os jovens vão para o casamento com o divórcio na algibeira. As pessoas são menos tolerantes, mais exigentes, aceitam pouco os defeitos do outro e a procura da felicidade é quase tão rápida como o pestanejar.
Acresce que os estímulos sociais são completamente diferentes:
Que mulher no tempo das nossas avós saia de casa por o marido não mexer uma palha?
Que mulher do tempo das nossas avós saia de casa por não saber os prazeres do sexo?
Os tempo mudaram (e ainda bem) diga-se. Mas convenhamos que nem sempre para melhor.
O capitalismo tardio decidiu que a monogamia em serie, as frequentes mudanças de emprego são a grande estabilidade para nós e para os nossos filhos.
 Decidiu, também, que é melhor que os cônjuges trabalhem fora de casa.
Decidiu que a maioria das crianças passará, pelo menos, metade da sua infância ao cuidado de estranhos.
Decidiu também que a instabilidade inerente ao casamento deve ser promovida e não eliminada

Modernices – dizem os idosos que teem vidas com alma.»

Excerto in “NO DORSO DO VENTO
De Alice Ruivo