Ser mulher, Mãe, alentejana e escritora, são coisas de que me orgulho particularmente. Enquanto mulher, vou-me atulhando de obrigações, deveres, alegrias e, de vez enquanto, por tão árdua tarefa, há algum reconhecimento que faz vibrar o sensível instrumento que é a alma feminina. Ser mulher é um sossego desassossegado, é um aconchego desaconchegado, onde ventos sopram fortes. Penso que este é um sentimento comum a todas as mulheres. Questiono-me, às vezes, de onde nos vem tanta alma, tanta harmonia.
Enquanto mãe, porventura a tarefa que mais ilumina a minha alma, são os filhos a razão do meu viver. São geradores de energia positiva. Através deles sinto a aragem fresca da manhã, vejo o brilhar do sol. Para quem eu não pretendo «fazer de mãe», limito-me a «ser mãe» uma espectadora atenta e interveniente quando necessário. Não há pais perfeitos nem filhos perfeitos. Não há bela sem senão, mas se calhar é o senão que nos dá tanta graça.
Enquanto alentejana, tenho como moldura, o Alentejo profundo, das imensas planícies e ocasos vermelhos. Um Alentejo que tudo dá e nada recebe. É sem duvida um amante conformado.
Enquanto escritora, costumo dizer que gosto de brincar com as palavras: Divertidas, pacientes, tolerantes nunca reclamam da forma como as utilizo para meu bel prazer. Não passam de palavras –dizemos- mas a mensagem que transportam, tanto pode ser um ataque à injustiça, como um apelo à compreensão dos homens.
Escrever é, por isso, para mim, um enorme prazer mas também preocupação e responsabilidade: Preocupação como forma de disciplina, responsabilidade como contrapartida de uma vida livre. Nesta acepção, o livro agora publicado “NO DORSO DO VENTO”, fala-nos de tudo isso. O que é ser mulher e mãe.
Jacinta, a personagem, viveu um amor quase impossível com admirável inteligência, reconciliando-se com a vida, com o amor e com ela própria.
«Durante meses foi um devorar de romances e quase chorava a dor das suas heroínas, tentando assim solidarizar-se com elas na sua própria dor. Pelas manhãs entrecortadas pela neblina dum frio que se entranhava no corpo, Jacinta passeava-se como o tempo: Vazia, triste e só».
Mas Jacinta venceu:
«Amo-te – dizia João incessantemente.
Estas palavras, outrora gastas, tinham agora o cheiro da maresia e a frescura das searas. Ela amava-o e confessava-o com a mesma inabalável resolução de que verdade é credora.»
Das palavras deste livro, onde me rendi à beleza das personagens, atrevo-me a dizer que devem ser lidas com emoção e prazer.