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Nasci em Minas de S. Domingos, uma pequena aldeia do Baixo Alentejo, no dia 19 de Maio de 1955. As minhas raízes são fortemente alentejanas. Cedo se revelou o meu gosto pela escrita. Comecei por escrever histórias, versos, poemas curtos mas longos no sentimento. Aos poucos foram crescendo, ganhando alma, criando à minha volta desejos, desnudando sentimentos onde encontrei muito para chorar. Quando escrever se tornou para mim uma dependência compreendi que era através da escrita que encontrava sossego sempre que sopros grosseiros de desordem invadiam a minha vida. Escrever é para mim um enorme prazer mas é também preocupação e responsabilidade: Preocupação como forma de disciplina, responsabilidade como contrapartida de uma vida livre. Escrevo pondo de lado todos os medos, e desfruto desse acto criativo, inventando, porque a literatura é uma invenção. Com frequência os meus livros nascem de ideias abstractas que vão ganhando forma à medida que as personagens se vão dispondo e arrumando sem conflituosidade. Escrevo com o coração, reescrevo com a cabeça e, por fim, dou-lhe alma.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O MEU ALENTEJO

 O Alentejo está-me na alma e no coração… sou uma mulher de fortes raízes alentejanas: quando chego ao Alentejo, começo logo a falar alentejano. É algo que não consigo controlar porque me faz sentir que lhe pertenço e dava muito de mim para acabar os meus dias na pequena aldeia de Minas de S. Domingos, onde nada acontece mas tudo tem significado. Onde se dá valor a tudo ainda que esse tudo seja quase nada…Em “O AMARGO E DOCE SABOR DA VIDA” escrevi: «Os dias eram todos lentos e diferentes: ontem nasceu mais um filho, hoje a burra teve mais uma cria, o sol nascia sorridente e era a fertilidade e as crianças que cresciam livres e felizes portadoras de sadia ingenuidade... Quem batesse à porta podia sempre entrar, nunca se perguntava quem tinha sido, mas sim quem era; todos eram bem recebidos entre todos. Dias feitos de coisas simples e pequenas, algumas com mais, outras com menos importância; mas as pessoas vivam felizes, tratando-se com dignidade e respeito mútuo. As noites eram sempre estreladas e quentes, dormia-se de porta aberta, convidando assim a Lua a entrar e testemunhar os sonos calmos e silenciosos. Madrugada ainda, os homens partiam. Gasómetro e marmita com o magro almoço, constituíam ferramentas essenciais. Trabalhavam nas minas e todos dependiam dela. Alguns perdiam ali a vida deixando viúvas e famílias numerosas, enquanto outros encontravam ali o sustento para todos os seus rebentos que teimavam em crescer felizes. E era assim a vida daqueles aldeões.»
Ser alentejana é portanto uma das coisas de que me orgulho particularmente. Afinal, foi lá que tudo começou: a minha vida e o meu gosto pela escrita. Hoje, passado mais de meio século da minha existência, creio ter atingido aquela idade em que já nada me surpreende: nem o falso, nem o bizarro, embora não lhes ache graça alguma… apenas o meu Alentejo não me desilude.
Com o Alentejo no coração surgiu o “O AMARGO E DOCE SABOR DA VIDA, “MATLDE, CARLOTA E JULIANA” e “NO DORSO DO VENTO”. É pois a continuidade da minha actividade como escritora e dentro de um universo narrativo muito próprio, continuarei, ao sabor da pena, dando palavras às minhas imagens e limpando a alma.
O pintor suja o corpo, as mãos, mas limpa a alma. Eu faço-o, escrevendo.

7 comentários:

  1. Li o teu livro No Dorso do Vento. gostei.
    Escrita com classe e veia poética.
    És além de uma excelente escritora, uma grande amiga.
    Beijinho, Alice.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. José. Obrigada pelas tuas palavras.O sentimento é reciproco. Também estou a ler o teu livro de poemas. A poesia é mais serena na leitura. Vou saboreando aos poucos. A poesia é a alma que fala e nos proporcionada momentos de grande intensidade. Um beijinhos também para ti.

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  4. Bonito texto, fez-me sentir o cheiro que só encontro no Alentejo.
    Maria Fernanda Henriques

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  5. É verdade Fernanda. O Alentejo tem o cheiro a poejo e coentro... Um beijinho para ti e obrigada por me visitares.

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  6. Olá Alice, vim do Face aqui parar e sinceramente, gostei muito do que li. Bonito texto! Também eu gosto muito do Alentejo e dos alentejanos. O Alentejo transmite-nos uma paz... Lembro-me de ter estado num Monte, que até tinha um burro à porta de casa e de ter ouvido os cantares alentejanos numa tasca de um mercado. Os alentejanos são muito simpáticos. Beijos
    Dina

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  7. Minha querida amiga. Mais uma vez te agradeço por te reteres neste cantinho. O Alentejo, tal como digo, esta-me na alma e no coração.

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