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Nasci em Minas de S. Domingos, uma pequena aldeia do Baixo Alentejo, no dia 19 de Maio de 1955. As minhas raízes são fortemente alentejanas. Cedo se revelou o meu gosto pela escrita. Comecei por escrever histórias, versos, poemas curtos mas longos no sentimento. Aos poucos foram crescendo, ganhando alma, criando à minha volta desejos, desnudando sentimentos onde encontrei muito para chorar. Quando escrever se tornou para mim uma dependência compreendi que era através da escrita que encontrava sossego sempre que sopros grosseiros de desordem invadiam a minha vida. Escrever é para mim um enorme prazer mas é também preocupação e responsabilidade: Preocupação como forma de disciplina, responsabilidade como contrapartida de uma vida livre. Escrevo pondo de lado todos os medos, e desfruto desse acto criativo, inventando, porque a literatura é uma invenção. Com frequência os meus livros nascem de ideias abstractas que vão ganhando forma à medida que as personagens se vão dispondo e arrumando sem conflituosidade. Escrevo com o coração, reescrevo com a cabeça e, por fim, dou-lhe alma.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

QUANDO O TEMPO NOS TRAI

Observamos a velhinha a apanhar sol… as velhinhas são como os lagartos: Gostam de sol.
Rimo-nos da mulher feia, emproada, snob que em jeito de matraca pronunciava palavras caras.
Vimos a mulher negra, bonita, alongando-se no discurso e nas palavras: não fora tão longa no discurso e a mulher negra e bonita, teria sido quase perfeita. Observamos os nossos maridos, enfadados e o teu, de colarinho mal amanhado, que tanto te incomodou, esforçando-se por apreciar.
Mas, pela primeira vez te senti afastada da poesia. Reparei como nos privaste de a ouvir, no teu tom macio, leve, mas forte.
Procuraste o teu neto que insistia em comer todos os bolos e, sempre atenta, quiseste acompanhar a Elsa. A Elsa tinha de chegar ao carro, com segurança…
Nesta permanente luta de preocupação com os outros, esqueceste-te de ti.
Sentaste-te numa cadeira e ali ficaste… levavas a mão ao peito.
O teu marido, estava naquela atitude de mostrar coragem, porem, quanto mais se esforçava, mais se notava a desorientação e a palidez de rosto que dele se apoderavam. Marchou depois com o meu marido rua acima tentando ir ao encontro da ambulância que tardava em chegar.
Que medo tive! Corri rua abaixo, perguntando em voz alta e aflita se havia no recinto (feira do livro) um transeunte, médico que te pudesse socorrer. Porque eu, boa amiga, não sabia que fazer.
Falava contigo para te ter presente. Não queria que te afastasses. Tentava animar-te.
- Rosa. Lembraste da mulher feia? Tão feia assim, só pode ter sido resultado de um aborto mal feito. Ou então "malmente" concebida na traseira de um autocarro. Efeitos da trepidação...
Riste-te.
- Alice. Disseste - só tu é que me fazias rir numa altura destas. Mas dói-me tanto o peito e começa a faltar-me o ar. Dizias repetidamente.
Estou com frio. Disseste. Despi o meu casaco e aconcheguei-o nas tuas costas.
Ficaste silenciosa.
E senti que fugias, que te afastavas, tal como tinha sentido que o fizeras horas antes com a poesia.

4 comentários:

  1. Viva Alice gostei da apresentação do livro,venha o seguinte.Li nalgum sitio que um livro é um testemunho unico,partilhado com os outros.Entendo a expressão como leigo.É tambem por vezes um grito que vem de dentro,ou seja um desejo de escrever antes que a vontade nos passe.

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  2. Anibal. Obrigado pelas suas palavras. Outros livros virão certamente. Quando se chega ao fim de uma tarefa, existe sempre o inicio de outra e essa sensação de renascimento é fantastica. Fundamental para afirmarmos a nossa existencia nesta passagem pela vida.
    Um abraço.

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  3. Amiga Alice!
    Cada vez mais me surpreendes minha amiga!
    Tens um dom, que por vezes me confunde, nesse teu jeito de dizer palavras sábias, colocadas numa caligrafia bonita, objectivo que eu jamais conseguirei alcançar, com pena minha; sim! Mas sem invejas, pois que amiga seria eu, se tivesse em meu coração tal sentimento!
    Tens uma doçura, que não sendo mel, é deliciosa e desejada quando no ponto, e assim fazendo do amargo, o mais doce dos doces.
    Tens um olhar onde o medo surge; mas logo é abafado por um brilho gaiato, que nos prende, nos cativa.

    Tens a palavra certa, que sai branda da tua boca, tentando dar alento e força ao amigo em apuros.
    Tens mãos grandes e fortes, que escrevem e descrevem palavras bonitas e ao mesmo tempo sabem acariciar e acalmar no tempo certo.
    És a mulher de colo gigante; com o eterno desejo de ser mãe!
    Mãe do mundo.
    És por fim a amiga certa, que qualquer mortal desejaria ter por perto.
    Alice! Em meu intimo peço a "Deus".
    Que derivado a este coração mole e brando que possuo, não me engane uma vez mais, acerca da amiga que escolhi, pois seria devastador e triste, ter que perder a amiga a quem tanto quero.
    AMIGAS PARA SEMPRE!
    Rosa Dias

    Esta carta foi escrita, em resposta ao texto acima escrito, duma situação que passamos as duas, a quando do lançamento do livro!
    "O Amargo e Doce Sabor da Vida".

    17-6-2003

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  4. Alice
    De alma de artista, pouco tenho!
    Contudo, quero reconhecer expressamente um verdadeiro e puro talento, que lhe é naturalmente inacto.
    Do meu intimo mais profundo, manifesto os meus maiores agaredecimentos pela grande honra com que me brindou, ao conceder-me tão nobre previlégio!
    Jamais esquecerei tal gesto, e sempre que me recordar sei que o meu coração vai sorrir.
    TILA

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