...Quanto a David, se lhe perguntassem o que sentiu naquele momento não saberia explicar... amar Jacinta não era um fardo, bem pelo contrário... mas sabê-la definitivamente nos braços do marido era difícil de suportar. «Se fosse possível medir o drama de uma vida através da metáfora do peso, dir-se-ia que me caiu um fardo em cima» pensou. Um sopro de desalento entrou-lhe pela alma. Caíra por terra todas as esperanças que até então alimentara.
Cresceu-lhe no peito tamanha saudade que se arrependeu de a ter deixado partir. Sentiu naquele momento vontade de correr para ela e dizer-lhe: «não me deixes, subjuga-me, luta comigo. O amor é um combate»... Mas David sabia que combateria sozinho, porque Jacinta não o amava. Mas ao deixá-la partir, assim, sem luta, achava que não deveria haver ao cimo da Terra pessoa mais estúpida.
Jacinta pertencia-lhe. Possuíra-a tantas vezes em sonhos e em pensamento, que não conseguia definir onde acabava o sonho e começava a realidade. Conseguia descrever, ponto por ponto, todas as partes do seu corpo e, quanto à sua alma, conhecia-a como ninguém. Reconhecia, no entanto, que Jacinta agira sempre com cautela e inteligência, ao não alimentar falsas esperanças.
David chegou ao consultório e, já aconchegado na sua cadeira de trabalho, sentiu o cheiro de Jacinta. Uma onda de calor espalhou-se, progressivamente, pelo corpo. Ligou o rádio, e uma música de Bach pareceu libertá-lo da solidão e da clausura a que o seu coração parecia condenado. De repente, viu-se possuidor duma agradável indolência...
A empregada serviu-lhe um café quente, aromático e um copo água, força redentora que lhe activou a circulação e reabilitou o princípio da vida. Tudo se tornara mais nítido, como se acabasse de limpar o nevoeiro da manhã, os sonhos incompreendidos. A hora de atender o primeiro doente chegou. No seu coração, Jacinta estaria para sempre... Porque dela não se queria libertar.
«No sentimento benfazejo, encontro serenidade.
Na serenidade do Universo renascente, encontro paixão.
Na paixão agastante, encontro dias confusos.
Na confusão dos dias, encontro angústias opressoras.
Na angústia do «quase»” encontro sonhos por resolver.
Nos sonhos que fomento, encontro felicidade ditosa.
Na felicidade que me move, encontro amores sublimes.
No amor perseverante e confuso, encontro-te a ti.»
Gostei muito do modo como sente a escrita. Os meus sinceros parabéns! A poesia quando se reveste em conto faz com que o mesmo se ilumine mais profundamte. Eu também tenho dois ou três contos escritos numa antologia " Elos e anelos-2008". Teresópolis(Brasil). Beijinhos e muita inspiração!
ResponderEliminarObrigada por me ter visitado. Gostaria de saber mais sobre a sua obra.
EliminarJá visitei o seu blog. Fiz-me seguidora. Vou tentar localiza-lo no facebook. Tem página? Um beijinho também para si.
Olá ALICE boa noite ..... Fiquei fascinada com a sua escrita , o nosso Alentejo criou muita inspiração ás suas raizes .muitos parabens pelo seu trabalho .Tenho uma filha que tambem têm muito geito para a escrita e tem no blog dela alguns contos que acho muito interessantes .... Se a ALICE quizer visitar ,tente localizar no facebok... TÁTÁ AFONSO o nome da minha filha..... beijinho.
ResponderEliminarBoa noite Passarinha Marafada (curioso nome marafada... muito alentejano) Obrigada por me visitar e pela apreciação que faz à minha escrita. Vou localizar a sua filha. Um beijinho o obrigada por ter passado por aqui.
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