A minha foto
Nasci em Minas de S. Domingos, uma pequena aldeia do Baixo Alentejo, no dia 19 de Maio de 1955. As minhas raízes são fortemente alentejanas. Cedo se revelou o meu gosto pela escrita. Comecei por escrever histórias, versos, poemas curtos mas longos no sentimento. Aos poucos foram crescendo, ganhando alma, criando à minha volta desejos, desnudando sentimentos onde encontrei muito para chorar. Quando escrever se tornou para mim uma dependência compreendi que era através da escrita que encontrava sossego sempre que sopros grosseiros de desordem invadiam a minha vida. Escrever é para mim um enorme prazer mas é também preocupação e responsabilidade: Preocupação como forma de disciplina, responsabilidade como contrapartida de uma vida livre. Escrevo pondo de lado todos os medos, e desfruto desse acto criativo, inventando, porque a literatura é uma invenção. Com frequência os meus livros nascem de ideias abstractas que vão ganhando forma à medida que as personagens se vão dispondo e arrumando sem conflituosidade. Escrevo com o coração, reescrevo com a cabeça e, por fim, dou-lhe alma.

sábado, 21 de maio de 2011

CARTAS IN "O AMARGO E DOCE SABOR DA VIDA"

“Querido Peter
Como posso ser tão egoísta...
Com tanta gente a morrer em Timor Lorosae e eu só consigo preocupar-me contigo. Que Deus me perdoe...
Hoje choro sozinha. Desde que te foste embora que não chorava. Mas hoje, olhando as fotos que me enviaste, especialmente aquela em que eu melhor me recordava de ti (quando eles te vieram buscar), choro, talvez porque a consciência me atraiçoa, tal como o fez o meu passado. Fingir, diariamente que está tudo na mesma, perante aqueles que me amam, apesar de todos os meus defeitos, é difícil.
Na verdade, nada mais foi a mesma coisa desde que partiste. Eles entendem mas não sofrem, eu sofro mas não entendo...
Não entendo porque teve o destino de ser tão cruel para ambos. Porque teve de nos causar tanto sofrimento, tanta dor, tanta rejeição. Penso no passado e lamento-me, culpo-me e quase tenho raiva de mim própria. É certo que tudo é passado, temos de olhar o presente, mas esse passado faz parte das nossas vidas e o mesmo reservou-nos mágoa e afastamento.
No meu coração tu sempre estiveste mas agora, ao tocar-te, sentir-te, beijar-te, sentir o teu cheiro, olhar para dento de ti, são sensações que, agora vividas dizem-me que não és só dono do meu coração, como fazes parte do todo “EU”.
Sem esforço, amamo-nos, sem remorso, sem culpa. Foi um amor puro, divino, celestial e quando fecho os olhos, consigo ouvir-te, ainda hoje, dizer ao meu ouvido, repetidamente, a palavra “mãe, mãe, mãe”, saboreio o tom da tua voz e, as palavras vindas de ti, têm o cheiro da terra molhada. Mas foi pouco o tempo juntos para quem esteve vinte anos sem se ver.
Querido filho, hoje choro sozinha porque não tenho ninguém para chorar comigo e na verdade, só nós dois sabemos a razão porque choramos...
Beijos da mãe.

Sem comentários:

Enviar um comentário