A minha foto
Nasci em Minas de S. Domingos, uma pequena aldeia do Baixo Alentejo, no dia 19 de Maio de 1955. As minhas raízes são fortemente alentejanas. Cedo se revelou o meu gosto pela escrita. Comecei por escrever histórias, versos, poemas curtos mas longos no sentimento. Aos poucos foram crescendo, ganhando alma, criando à minha volta desejos, desnudando sentimentos onde encontrei muito para chorar. Quando escrever se tornou para mim uma dependência compreendi que era através da escrita que encontrava sossego sempre que sopros grosseiros de desordem invadiam a minha vida. Escrever é para mim um enorme prazer mas é também preocupação e responsabilidade: Preocupação como forma de disciplina, responsabilidade como contrapartida de uma vida livre. Escrevo pondo de lado todos os medos, e desfruto desse acto criativo, inventando, porque a literatura é uma invenção. Com frequência os meus livros nascem de ideias abstractas que vão ganhando forma à medida que as personagens se vão dispondo e arrumando sem conflituosidade. Escrevo com o coração, reescrevo com a cabeça e, por fim, dou-lhe alma.

domingo, 29 de maio de 2011

In " NO DORSO DO VENTO

...Quanto a David, se lhe perguntassem o que sentiu naquele momento não saberia explicar... amar Jacinta não era um fardo, bem pelo contrário... mas sabê-la definitivamente nos braços do marido era difícil de suportar. «Se fosse possível medir o drama de uma vida através da metáfora do peso, dir-se-ia que me caiu um fardo em cima» pensou.  Um sopro de desalento entrou-lhe pela alma. Caíra por terra todas as esperanças que até então alimentara.
Cresceu-lhe no peito tamanha saudade que se arrependeu de a ter deixado partir. Sentiu naquele momento vontade de correr para ela e dizer-lhe: «não me deixes, subjuga-me, luta comigo. O amor é um combate»... Mas David sabia que combateria sozinho, porque Jacinta não o amava. Mas ao deixá-la partir, assim, sem luta, achava que não deveria haver ao cimo da Terra pessoa mais estúpida.
Jacinta pertencia-lhe. Possuíra-a tantas vezes em sonhos e em pensamento, que não conseguia definir onde acabava o sonho e começava a realidade. Conseguia descrever, ponto por ponto, todas as partes do seu corpo e, quanto à sua alma, conhecia-a como ninguém. Reconhecia, no entanto, que Jacinta agira sempre com cautela e inteligência, ao não alimentar falsas esperanças.
David chegou ao consultório e, já aconchegado na sua cadeira de trabalho, sentiu o cheiro de Jacinta. Uma onda de calor espalhou-se, progressivamente, pelo corpo. Ligou o rádio, e uma música de Bach pareceu libertá-lo da solidão e da clausura a que o seu coração parecia condenado. De repente, viu-se possuidor duma agradável indolência...
A empregada serviu-lhe um café quente, aromático e um copo água, força redentora que lhe activou a circulação e reabilitou o princípio da vida. Tudo se tornara mais nítido, como se acabasse de limpar o nevoeiro da manhã, os sonhos incompreendidos. A hora de atender o primeiro doente chegou. No seu coração, Jacinta estaria para sempre... Porque dela não se queria libertar.

«No sentimento benfazejo, encontro serenidade.
Na serenidade do Universo renascente, encontro paixão.
Na paixão agastante, encontro dias confusos.
Na confusão dos dias, encontro angústias opressoras.
Na angústia do «quase»” encontro sonhos por resolver.
Nos sonhos que fomento, encontro felicidade ditosa.
Na felicidade que me move, encontro amores sublimes.
No amor perseverante e confuso, encontro-te a ti.»

4 comentários:

  1. Gostei muito do modo como sente a escrita. Os meus sinceros parabéns! A poesia quando se reveste em conto faz com que o mesmo se ilumine mais profundamte. Eu também tenho dois ou três contos escritos numa antologia " Elos e anelos-2008". Teresópolis(Brasil). Beijinhos e muita inspiração!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada por me ter visitado. Gostaria de saber mais sobre a sua obra.
      Já visitei o seu blog. Fiz-me seguidora. Vou tentar localiza-lo no facebook. Tem página? Um beijinho também para si.

      Eliminar
  2. Olá ALICE boa noite ..... Fiquei fascinada com a sua escrita , o nosso Alentejo criou muita inspiração ás suas raizes .muitos parabens pelo seu trabalho .Tenho uma filha que tambem têm muito geito para a escrita e tem no blog dela alguns contos que acho muito interessantes .... Se a ALICE quizer visitar ,tente localizar no facebok... TÁTÁ AFONSO o nome da minha filha..... beijinho.

    ResponderEliminar
  3. Boa noite Passarinha Marafada (curioso nome marafada... muito alentejano) Obrigada por me visitar e pela apreciação que faz à minha escrita. Vou localizar a sua filha. Um beijinho o obrigada por ter passado por aqui.

    ResponderEliminar