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Os meus pais nas suas bodas de ouro. |
«Diz-se que os diamantes são os melhores amigos das mulheres.
Também se diz que são eternos, atributo raro numa sociedade que valoriza o deitar fora.
Felizmente há casamentos como os diamantes. Eternos. Pese embora o brilho que com o tempo tende a embaciar.
Quando isto acontece, respeitam-se e há sempre um que ama mais que o outro, como se o amor de um chegasse para os dois.
«É um bom marido. Nunca me levantou a mão» dizem com frequência. Curioso como nesta altura (reporto-me a casais com 50 e 60 anos de casamento) o facto de o marido nunca ter levantado a mão, fazia dele um bom marido, como para ser um bom pai, bastava que a comida nunca faltasse na mesa. E era-o realmente.
Homem assim, jamais troca por outra mulher a esposa que tem, nem reclama das queixas dela, nem das rugas, nem das estrias, nem dos quilos a mais. Aprenderam-se a gostar não pelo aspecto actual, mas por tudo aquilo que representam um para o outro ao longo da vida.
E estes são os casamentos eternos. São as vidas vividas com alma.
Hoje os jovens vão para o casamento com o divórcio na algibeira. As pessoas são menos tolerantes, mais exigentes, aceitam pouco os defeitos do outro e a procura da felicidade é quase tão rápida como o pestanejar.
Acresce que os estímulos sociais são completamente diferentes:
Que mulher no tempo das nossas avós saia de casa por o marido não mexer uma palha?
Que mulher do tempo das nossas avós saia de casa por não saber os prazeres do sexo?
Os tempo mudaram (e ainda bem) diga-se. Mas convenhamos que nem sempre para melhor.
O capitalismo tardio decidiu que a monogamia em serie, as frequentes mudanças de emprego são a grande estabilidade para nós e para os nossos filhos.
Decidiu, também, que é melhor que os cônjuges trabalhem fora de casa.
Decidiu que a maioria das crianças passará, pelo menos, metade da sua infância ao cuidado de estranhos.
Decidiu também que a instabilidade inerente ao casamento deve ser promovida e não eliminada
Modernices – dizem os idosos que teem vidas com alma.»
Excerto in “NO DORSO DO VENTO
De Alice Ruivo